sexta-feira, abril 15

Diferentes Motivações

Quando voamos, nem sempre temos a presença de espírito para analisar o porquê de tudo o que acontece quando realizamos este acto. O simples acto de agarrar o arnês tem algo de especial que funciona um pouco como uma porta que nos desliga do mundo de quem anda a pé. No fim, todos nos encontramos equipados nos nossos arneses mais ou menos confortáveis, mais ou menos adequados à nossa fisionomia.
Acto continuo, depois de equipados, a cabeça levanta-se à procura de um objectivo para justificar tal ritual de equilibrismo e é quando a asa se levanta por cima da cabeça, que tudo parece fazer sentido, uma sensação instala-se, algo que quem nunca voou não poderá experimentar, nem no simulador virtual mais avançado.
Todos conseguem voar, mas nem todos experimentaram o que é ser livre aos seus comandos.
Atingir uma certa relação com a máquina, que faz os bens materiais parecerem completamente obsoletos, deixando de ser ferramentas ao nosso serviço e passar a fazer parte integrante do nosso corpo. Voar deixa de ter o mesmo significado que tinha nos nossos sonhos. A natureza estende uma mão por debaixo de quem conseguiu atingir a plenitude."
É verdade, há que dizê-lo, nós os amantes do VOO somos uma minoria, mas como se diz, mais vale poucos e bons do que...
Mesmo dentro desta minoria existem interesses diferentes, sendo a asa o único elemento comum entre todos. O acto de VOAR para alguns, é uma forma de estar na vida. Há que respeitar todas as formas de estar e não esquecer nenhuma delas. Neste mundo do VOO há lugar para todos, sendo cada um feliz à sua maneira.

Assim o PARAPENTE:
- Para uns é descobrir e desbravar novos locais de voo por esse Portugal esquecido, sozinhos ou na companhia de amigos, contactando as simpáticas gentes dessas nossas aldeias remotas, numa profunda paz interior.
- Para uns é poder participar em competições, para conquistar um lugar entre os eleitos, procurando a fama, reconhecimento, taças e dinheiro.
- Para uns é participar nos encontros organizados de fim de semana e assim fazer novas amizades, conhecer outros espaços e estar entre os que gostam de voar.
- Para uns é entrar em competições muito simplesmente para participar. Estar no evento, ao lado dos campeões, competindo apenas consigo próprio.
- Para uns é pegar na asa e com ela aprender a fazer acrobacias e testar os limites.
- Para uns é subir o mais alto quanto possível, saboreando o êxtase do sucesso.
- Para uns é voar calmamente em condições ideais e desfrutar dos voos matinais e de fim de tarde.
- Para uns é levar toda a família à montanha e com eles descobrir uma nova vida em convívio, uma forma mais nobre de ocupar os tempos livres.
- Para uns é ter uma asa e com isso poder ser reconhecido como um aventureiro, um radical do desporto, um atleta.
- Para uns é comprar o equipamento mais exótico, voar a asa mais "high-tech" e tê-la imaculada sob uma redoma na sala de estar, contemplando-a dias a fio, devorando todas as revistas da especialidade na busca da última criação tecnológica. Andar nela não é importante, até porque se vai sujar.Só se estiver seco, for em bom piso e houver gente para admirá-la.
- Para uns é uma forma de libertação do stress após um dia de trabalho.
- Para uns é saber tudo o que há para saber sobre material e passar tardes a discutir sobre qual a melhor asa, o melhor arnês, o futuro da modalidade ou a actual forma dos pilotos de competição.
- Para uns é ter uma asa dita barata e levá-la a fazer o que as ditas sofisticadas não conseguem, e poderem provar que o que verdadeiramente interessa é o piloto.
- Para uns é viajar pelas montanhas, em total auto-suficiência durante semanas, percorrendo vários países ou regiões, engrandecendo o seu conhecimento de outros horizontes, de outro povos e de si próprio.

“Que todos pintem o céu nos próximos dias.”

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